Voyage 1.6 Comfortline tem preço inicial de R$ 41.160; Lifan 620 começa em R$ 39.980
Como fizeram em outros setores, como o têxtil e o eletrônico, as marcas chinesas de automóveis estão chegando com o apelo do produto barato. Preço é um atrativo muito importante, mas há outros fatores em jogo. Vamos analisar item por item.
No quesito preço, não há o que discutir: o chinês é muito mais equipado e custa menos. Para oferecer o mesmo nível de equipamentos do Lifan, o Voyage Comfortline salta para quase R$ 52.000. Ponto para o asiático. Na garantia, 2 a 0 para a China, com seus três anos de cobertura, contra um do VW.
Qualquer semelhança com o Corolla antigo não é mera coincidência. O 620 usa a plataforma antiga do Toyota. Frente e traseira são diferentes
Em termos de estilo, os dois são discretos. O Voyage é sóbrio. Juntamente com o Gol, deverá mudar no ano que vem, assumindo visual semelhante ao do Fox. O Lifan tem a parte central (não por acaso) muito parecida com o Corolla antigo, o que inclui portas e colunas. A frente e a traseira são próprias, mas ainda assim é possível detectar grade (cromada) que lembra um pouco a do Passat. Os faróis têm uma fileira de leds na parte inferior, à moda Audi.
Entrando, a gente percebe que pelo menos em um ponto os brasileiros têm o que aprender com os chineses: o painel do sedã da VW tem estilo simples demais e usa plástico rígido, com aparência pobre. Já o Lifan 620 tem revestimento macio na parte superior, com desenho que lembra um pouco os BMWs. A decoração interna do 620 mescla imitação de madeira com acabamento prateado.
No chinês, há um display digital que mostra nível de gasolina e temperatura do motor, além dos hodômetros. No VW, todos os indicadores são analógicos, mas opcionalmente há computador de bordo (não oferecido no Lifan). A boa impressão do painel diminui quando a gente começa a reparar no acabamento interno. O Lifan tem parafusos aparentes no pé da coluna dianteira. E a alavanca de câmbio já estava descascando (num carro que chegou à redação com menos de 30 km rodados). Os dois têm volante com comandos de som, mas aí o Voyage leva a melhor, já que o volante de Passat CC é bem melhor que o do chinês.
O porta-malas do Lifan acomoda 523 litros, antre 470 l do Voyage (números aferidos por Autoesporte)
Em movimento, o Voyage (que bebe etanol, ao contrário do Lifan) é muito superior. Além de ser melhor em aceleração, consegue ser muito superior em retomadas. Isso ocorre porque o 620 tem torque inferior ao do VW (14 kgfm, ante 15,6 kgfm). Além disso, enquanto no nacional o torque máximo ocorre a apenas 2.500 rpm (ou seja, com um leve toque no acelerador), no Lifan ele aparece só a 4.800 giros. Isso explica a falta de força e as retomadas demoradas em baixa rotação. No subidão que pego diariamente no caminho de casa, o 620 reclamou e só subiu em primeira. Nessas condições, ele se assemelha a carro 1.0. O Voyage encara o mesmo trecho em segunda, com sobra de motor.
Como no gol, os botões dos vidros de trás ficam no painel. Os bancos têm abas laterais, para melhor apoio
Em termos de suspensão, o sedã da VW volta a mostrar superioridade. Contrastando com o acerto firme do Voyage, o Lifan apresentou frente muito leve e solta. O diretor de engenharia da Effa Motors (representante da Lifan no Brasil), Ronaldo Mazará Júnior, diz que, por enquanto, os modelos continuam com as especificações feitas para rodar na China (embora a montagem seja feita no Uruguai). O engenheiro diz que foram realizadas somente alterações para adequar o carro à legislação de emissões, além de adaptar a injeção de combustível para trabalhar com gasolina nacional (misturada com etanol). Além disso, ele diz que está preparado para promover as adaptações necessárias.
A impressão visual agrada, mas a unidade testada apresentou folga na direção e o câmbio tem engates um pouco duros
*Na unidade testada, a direção estava com muita folga.
*Durante os dias em que o veículo esteve com a gente, o calor em São Paulo foi de rachar, e o ar-condicionado não deu conta. Além disso, cada vez que se desliga o motor, o comando do ar também desliga. Por isso, passamos muito calor até perceber que era preciso religar o botão do ar toda vez que a ignição era acionada.
*Mais: tanto o 620 como o Voyage vêm com sensores de estacionamento (de série apenas no chinês), mas quando se engrena a ré no Lifan aparece uma mensagem de “TEL CALL” (chamada telefônica) no display do rádio.
*Nos dois, os para-sóis possuem espelhos com tampa, mas no Lifan a cobertura emperrou e não abriu mais.
Apesar das deficiências, o chinês arrancou um empate técnico no duelo (o VW ficou apenas 0,5 ponto na frente). Se corrigir as falhas e mostrar durabilidade (o que é uma incógnita), pode vir a ser uma opção. Melhor esperar para ver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário