O cenário é a Estrada dos Romeiros, um prato cheio para quem curte trajeto travado e uma sequência saborosa de curvas. É um belo teste para suspensão, freios e motor, exigido nas retomadas pelas curtas retas do caminho. Pois aqui estamos eu e o diretor Fábio Trindade com os dois mais novos hot hatches à venda no Brasil. Como já conhecia o DS3 de outras aventuras, não contive minha ansiedade de vestir o Fusca para dar início aos trabalhos. Desde que o vi ao vivo pela primeira vez, no Salão de Paris, tinha gostado das formas mais parrudas que ele ganhou, como o teto mais baixo, as laterais bombadas e o aerofólio na traseira. Cheguei a brincar que a VW estava lançando o 911 do povo. Faltava acelerá-lo.
A primeira expectativa que eu nutria a respeito dele foi embora junto com a primeira ondulação na pista. Apesar dos rodões aro 18 e da suspensão firme, o Fusca é surpreendentemente confortável. Ok, não chega a ser macio, mas transmite muito menos os impactos do que um Mini Cooper, por exemplo. Segunda constatação: a afinada dupla formada pelo motor 2.0 turbo e o câmbio DSG cai bem em qualquer coisa que o Grupo VW resolva colocá-la. Melhor ainda é que no Fusca o ronco foi trabalhado para ficar mais grave, ligeiramente borbulhante, o que resultou num timbre mais bravo que no Jetta. Ah, e com direito aos “pipocos” no escape durante as trocas de marcha acima de 4 mil rpm, para deixar a coisa toda ainda mais interessante.
Envolvidos nessa atmosfera, vamos engolindo a estrada com muito apetite. O torque de 28,5 kgfm disponível logo em 1.700 rpm e as trocas quase imediatas feitas pelas borboletas atrás da direção deixam o Fusca sempre afiado nas respostas. Atraso a freada, chamo marcha pra baixo e aponto o volante. O VW entra preciso na curva, sem balanços indesejados da carroceria ou muita reclamação dos largos Hankook 235/45 R18. A direção tem peso correto e boa sensibilidade, mas é o bloqueio eletrônico do diferencial que se destaca, evitando que a frente arraste muito ao não deixar que a roda interna à curva destracione além da conta. Assim, temos um comportamento típico de carro alemão: firme, bem postado ao chão e com a traseira presa mesmo quando aliviamos o acelerador no meio da tangente.
Os 200 cv dão conta de puxar o Fusca com vigor (o manômetro do turbo no alto do painel acusa mais de 1,5 bar de pressão quando se pisa fundo), mas o DS3 segue tudo de perto. Isso porque, apesar de mais forte, o VW é bem mais pesado: 1.390 kg contra 1.165 kg – diferença que se sente ao dirigir. O VW também é menos ágil em mudanças de direção rápidas e curvas tipo cotovelo, por conta do entreeixos mais longo (2,54 ante 2,46 m), o que dá vantagem ao DS3 nessa estrada travada. Nas arrancadas, porém, o Fusca impõe sua maior cavalaria e torque, além do câmbio de dupla embreagem (de trocas mais rápidas que o manual do DS3): fez de 0 a 100 km/h em 7,3 s, enquanto o Citroën chegou lá em 7,9 s.
Apesar dessa característica, o ímpeto do DS3 precisa ser provocado. Abaixo de 3 mil rpm há um claro atraso nas respostas do acelerador, o conhecido turbo lag. A dica é manter a agulha do conta-giros lá em cima para respostas mais prontas. É o que faço. O hatch então se torna um foguetinho e, a partir da terceira marcha, ainda conta com um overbooster (que eleva a pressão do turbo por instantes e faz o torque chegar a 26,5 kgfm) para fazer a paisagem borrar mais depressa. O ronco, no entanto, é bastante discreto. A suspensão é firme sem ser dura (um pouco mais macia que a do VW) e a direção leve (elétrica) não tem a mesma comunicação do sistema do Fusca, mas agrada pela rapidez.
Em uso comum, os dois oferecem estabilidade acima da média, desempenho de sobra e são muito fáceis de controlar. Os freios também se mostraram eficientes, tanto na estrada quanto nos testes, com ligeira vantagem para o Citroën – ser mais leve ajuda também nesse caso. Numa pista fechada, abusando do limite, o DS3 será mais arisco. Mas dizer qual dos dois abre o maior sorriso no rosto é uma tarefa complicada, pois depende do gosto do motorista. O Fusca é mais refinado tecnicamente (a suspensão traseira é multilink contra eixo de torção do Citroën e o câmbio tem dupla embreagem), mas, no geral, os dois são capazes de encantar os entusiastas.
Terminada a estrada, sentamos na calçada para a análise dos carros parados. Em matéria de design, novamente nos deparamos com uma questão de gosto. Quem é fã do Fusca vai curtir ainda mais desse modelo novo, já que o New Beetle era um tanto feminino. O ponto alto da dianteira fica para os faróis com um feixe de 15 leds (opcional), enquanto na traseira as lanternas deixaram de ser redondas e dão a impressão (real) de que o carro está mais “sentado” no solo. O DS3 não tem estilo retrô, mas é muito mais que uma mera versão duas portas do C3. O charme dele aparece em sacadas como a coluna central em forma de barbatana de tubarão e no conjunto de colunas e teto na cor preta.
No interior, o Fusca deu adeus ao vasinho de flores do New Beetle, mas manteve alguns elementos de identificação com o passado. É o caso das alças de borracha nas colunas centrais e do porta-luvas frontal – há também o tradicional, mais abaixo. O volante de aro fino também é uma homenagem ao velho besouro, enquanto o quadro de instrumentos sai da mesmice dos demais VW ao adotar um velocímetro bem destacado ao centro. Em meio desse ambiente nostálgico, chama a atenção a moderna central multimídia com tela sensível ao toque e GPS integrado, além do potente sistema de som da Fender, que permite mudar até a cor da iluminação da borda do alto falante. Tudo muito legal, só que tudo cobrado à parte. Dos R$ 80.990 do preço inicial dessa versão DSG (o manual parte de R$ 76.600), o Fusca supera a barreira dos R$ 100 mil quando completão. Por esse preço você leva ainda rodas aro 18 (as de série são 17), ar-condicionado digital e um generoso teto solar, entre outros itens.
Se o Fusca é diferente dos demais VW, o DS3 não nega sua origem da família C3. Volante, quadro de instrumentos, posição dos pedais, tela do computador de bordo… Quase tudo é compartilhado com o C3 e o C3 Picasso. Mas o esportivo é mais refinado, como pode se sentir ao tocar no painel de material emborrachado (no Fusca é plástico rígido), ou nos ótimos bancos de couro com abas bem pronunciadas. Como no VW, o Citroën traz acabamento imitando fibra de carbono em boa parte do painel, o que dá um tempero esportivo à cabine. O que destoa, no entanto, é o velho CD player usado desde os tempos do antigo C3. Comparado à central multimídia do Fusca, o DS3 é que parece retrô nesse quesito. O lado bom da menor oferta de mimos é que o preço do Citroën varia pouco: de R$ 79.900, chega a R$ 82.800 com os bancos de couro perfurado – o único opcional, aliado ao aquecimento dos assentos dianteiros.
Enquanto os motores esfriam, nossa discussão sobre qual o modelo preferido esquenta – na verdade ainda não chegamos à uma conclusão até hoje. Mais do que eleger um vencedor (como dissemos, vai depender do paladar do cliente), esse teste mostra que, enfim, nós temos hot hatches que merecem ser chamados assim. Com muito estilo, desempenho e um comportamento digno de esportivos, essa dupla vai deixar muita gente no retrovisor…
Por Daniel Messeder
Fotos Rafael Munhoz exclusivo para o CARPLACE – Portfólio Flickr
Fotos Rafael Munhoz exclusivo para o CARPLACE – Portfólio Flickr
Ficha técnica – VW Fusca 2.0 TSI
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.984 cm3, comando duplo, turbo e intercooler, injeção direta, gasolina; Potência: 200 cv a 5.100 rpm; Torque: 28,5 kgfm a 1.700 rpm; Transmissão: câmbio automatizado de seis marchas, dupla embreagem, tração dianteira; Direção: eletro-hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e multilink na traseira; Freios: discos nas quatro rodas, dianteiros ventilados, com ABS; Peso: 1.390 kg; Capacidades: porta-malas 310 litros, tanque 55 litros; Dimensões: comprimento 4,278 mm, largura 1,808 mm, altura 1,486 mm, entreeixos 2,537 mm
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.984 cm3, comando duplo, turbo e intercooler, injeção direta, gasolina; Potência: 200 cv a 5.100 rpm; Torque: 28,5 kgfm a 1.700 rpm; Transmissão: câmbio automatizado de seis marchas, dupla embreagem, tração dianteira; Direção: eletro-hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e multilink na traseira; Freios: discos nas quatro rodas, dianteiros ventilados, com ABS; Peso: 1.390 kg; Capacidades: porta-malas 310 litros, tanque 55 litros; Dimensões: comprimento 4,278 mm, largura 1,808 mm, altura 1,486 mm, entreeixos 2,537 mm
Medições CARPLACE – valores entre parênteses se referem ao teste com ar-condicionado ligado
Aceleração
0 a 60 km/h: 3,7 s (3,7 s)
0 a 80 km/h: 5,1 s (5,2 s)
0 a 100 km/h: 7,3 s (7,4 s)
0 a 60 km/h: 3,7 s (3,7 s)
0 a 80 km/h: 5,1 s (5,2 s)
0 a 100 km/h: 7,3 s (7,4 s)
Retomada
40 a 100 km/h em Drive: 5,4 s (5,5 s)
80 a 120 km/h em Drive: 4,6 s (4,9 s)
40 a 100 km/h em Drive: 5,4 s (5,5 s)
80 a 120 km/h em Drive: 4,6 s (4,9 s)
Frenagem
100 km/h a 0: 39,8 m
80 km/h a 0: 25,2 m
60 km/h a 0: 14,2 m
100 km/h a 0: 39,8 m
80 km/h a 0: 25,2 m
60 km/h a 0: 14,2 m
Consumo
Ciclo cidade: 8,2 km/l
Ciclo estrada: 12,4 km/l
Ciclo cidade: 8,2 km/l
Ciclo estrada: 12,4 km/l
Números do fabricante
Aceleração 0 a 100 km/h: 7,5 s
Consumo cidade: N/D
Consumo estrada: N/D
Velocidade máxima: 225 km/h
Aceleração 0 a 100 km/h: 7,5 s
Consumo cidade: N/D
Consumo estrada: N/D
Velocidade máxima: 225 km/h
Ficha técnica – Citroën DS3
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.598 cm3, comando duplo, turbo e intercooler, injeção direta, gasolina; Potência: 165 cv a 6.000 rpm; Torque: 24,5 kgfm a 1.400 rpm; Transmissão: câmbio manual de seis marchas, tração dianteira;Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: discos nas quatro rodas, dianteiros ventilados, com ABS; Peso:1.165 kg; Capacidades: porta-malas 280 litros, tanque 50 litros; Dimensões:comprimento 3,948 mm, largura 1,715 mm, altura 1,483 mm, entreeixos 2,464 mm
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.598 cm3, comando duplo, turbo e intercooler, injeção direta, gasolina; Potência: 165 cv a 6.000 rpm; Torque: 24,5 kgfm a 1.400 rpm; Transmissão: câmbio manual de seis marchas, tração dianteira;Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: discos nas quatro rodas, dianteiros ventilados, com ABS; Peso:1.165 kg; Capacidades: porta-malas 280 litros, tanque 50 litros; Dimensões:comprimento 3,948 mm, largura 1,715 mm, altura 1,483 mm, entreeixos 2,464 mm
Medições CARPLACE – valores entre parênteses se referem ao teste com ar-condicionado ligado
Aceleração
0 a 60 km/h: 3,9 s (4,1 s)
0 a 80 km/h: 5,7 s (5,8 s)
0 a 100 km/h: 7,9 s (8,1 s)
0 a 60 km/h: 3,9 s (4,1 s)
0 a 80 km/h: 5,7 s (5,8 s)
0 a 100 km/h: 7,9 s (8,1 s)
Retomada
40 a 100 km/h em 3a: 7,9 s (8,1 s)
80 a 120 km/h em 5a: 8,8 s (9,1 s)
40 a 100 km/h em 3a: 7,9 s (8,1 s)
80 a 120 km/h em 5a: 8,8 s (9,1 s)
Frenagem
100 km/h a 0: 38,8 m
80 km/h a 0: 24,2 m
60 km/h a 0: 13,3 m
100 km/h a 0: 38,8 m
80 km/h a 0: 24,2 m
60 km/h a 0: 13,3 m
Consumo
Ciclo cidade: 9,3 km/l
Ciclo estrada: 15,6 km/l
Ciclo cidade: 9,3 km/l
Ciclo estrada: 15,6 km/l
Números do fabricante
Aceleração 0 a 100 km/h: 7,3 s
Consumo cidade: N/D
Consumo estrada: N/D
Velocidade máxima: 219 km/h
Aceleração 0 a 100 km/h: 7,3 s
Consumo cidade: N/D
Consumo estrada: N/D
Velocidade máxima: 219 km/h
Fonte: Carplace
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