A ligação me deixou feliz e um pouco tenso, ao mesmo tempo. Sabe onde ela marcou nosso encontro? No Autódromo de Interlagos. Ela queria me intimidar, eu não tinha dúvidas. E ela tem potencial de sobra para isso. A mãe dela, uma tal de AMG, é especialista em pegar as comportadas filhas da “Dona” Mercedes e transformá-las em meninas endiabradas. Ao se tornar uma 55, a pequena SLK não foge à regra: ela ganha um motor V8 de 5.5 litros que entrega 421 cv e brutais 55,1 kgfm de torque – é o mesmo usado nas AMG mais fortes, só que sem turbo. Tudo isso com a opção de andar sem capota. Entendeu por que fiquei de cabelo armado?
Lá em Interlagos não teve muito jogo. Foram apenas três voltas e um monte de “seguranças” dizendo pelo rádio que eu não podia desfrutar da SLK totalmente. “Nada de desligar o ESP!”, avisavam. Ok, os caras estavam certos. “Mamãe” AMG pegou pesado ao dar tanto poderio para sua filha caçulinha. Não fossem os controles eletrônicos segurando o ímpeto dos 421 cv despejados nas rodas traseiras, em alguma hora ela ia fazer a gente ver o mundo ao contrário. Como não queria correr esse risco (vai que ela não me liga mais?), eu só acompanhava a luzinha do ESP piscando desesperadamente enquanto eu ficava o pé no acelerador nas saídas de curva da pista. Foi uma manhã divertida, mas eu queria mais.
A abertura é “espetaculosa”: um engenhoso sistema elétrico dobra e guarda a capota rígida no porta-malas em 20 segundos. Se você fizer isso no meio do trânsito, junta gente em volta. Capota guardada, vamos em frente. Ao ar livre, não sei o que empolga mais: o vento no rosto ou o V8 borbulhando ali atrás pelas quatro saídas de escape. Um ronco forte, estrondoso até, que arrepia mesmo os mais enturmados com a coisa. E como essa SLK anda! Bom, nem preciso dizer que as ultrapassagens soavam como covardia para os demais carros – 80 a 120 km/h em 3,1 segundos! Bastava afundar o acelerador, puxar a direção para o lado e ver o mundo ficando para trás. Em nossas medições, as passagens com o ar-condicionado ligado não fizeram a mínima diferença (por isso o N/A na ficha de testes).
O modo mais divertido é o “manual”. Aí você comanda as sete marchas com puxadas nas belíssimas alavancas de metal (que lembram as das Ferrari) atrás do volante. Funciona bem numa condução esportiva, e as mudanças são até rápidas nas subidas de marcha, mas nada que se compare a um sistema de dupla embreagem – coisa que a AMG só oferece no top SLS. Da mesma forma, o câmbio automático da Mercedes não aceita reduções radicais, exigindo que se deixe cair mais o giro antes de executar a manobra.
Com os controles ligados, a estabilidade dá e sobra. Mesmo em condições de chuva, a alemã se mostrou sempre à mão e bem presa ao chão. Apesar de longa, a dianteira é obediente e a direção pesada ajuda a manter as coisas em ordem quando se está rápido, embora pudesse ser um pouco mais comunicativa. A suspensão firme garante que a carroceria não balance muito nos desvios velozes e nem incline nas curvas. Mas a SLK 55 é tão forte que a traseira rabeia nas arrancadas, ainda que a eletrônica esteja ativa. Com o ESP desligado, é preciso perícia (e uma pista fechada) para encontrar o ponto de fazer uma derrapagem controlada ou protagonizar uma bela rodada.
Passando do lado nervoso para o luxuoso da coisa, a SLK encanta pelo painel finamente revestido de couro e pelo farto uso de alumínio, sem falar nos bancos com múltiplos ajustes elétricos. O sistema de som também é chique e potente, da Harman/Kardon, mas confesso que usei pouco – preferi o ronco do V8. O equipamento mais bacana desse roadster, no entanto, é o chamado airscarf, um sistema de ar quente com saídas na altura da nuca dos ocupantes. Assim, você pode andar de capota aberta mesmo em dias frios. Isso minha namorada adorou.
Chegando à pequena Juquehy, com quebra-molas inversamente proporcionais ao tamanho da cidade, a 55 AMG me surpreendeu pela forma como superou os obstáculos. Nada de pegar a dianteira baixa ou as saias laterais – apenas algumas leves raspadas embaixo. O único incômodo a bordo eram as chacoalhadas da cabine ao passar nos pisos ruins, mas aí não é culpa do carro, e sim minha que resolvi passar com um esportivão de US$ 239.900 (pouco mais de R$ 480 mil) naquele lugar. No geral, dá para dizer que essa AMG encara uma utilização diária numa boa, com muito desempenho e o apelo irresistível da curtição a céu aberto. Para os dias de fúria, porém, minha AMG favorita ainda é outra – a C63 Black Series. Mas deixa eu falar isso baixo para a SLK 55 não ficar com ciúme…
Fonte: Carplace
Ficha técnica – Mercedes-Benz SLK 55 AMG
Motor: dianteiro, longitudinal, oito cilindros em V, 32 válvulas, 5.461 cm3, comando duplo variável, gasolina; Potência: 421 cv a 6.800 rpm; Torque: 55,1 kgfm a 4.500 rpm;Transmissão: câmbio automático de sete marchas, tração traseira; Direção: hidráulica;Suspensão: independente com paralelogramos deformáveis na dianteira e na traseira;Freios: discos ventilados nas quatro rodas, com ABS; Rodas: aro 18 com pneus 235/40 na frente e 255/35 atrás; Peso: 1.610 kg; Capacidades: porta-malas 335/225 litros, tanque 70 litros; Dimensões: comprimento 4,146 mm, largura 1,817 mm, altura 1,300 mm, entreeixos 2,430 mm
Medições CARPLACE – valores entre parênteses se referem ao teste com ar-condicionado ligado
Aceleração
0 a 60 km/h: 2,8 s (N/A)
0 a 80 km/h: 3,9 s (N/A)
0 a 100 km/h: 5,4 s (N/A)
0 a 60 km/h: 2,8 s (N/A)
0 a 80 km/h: 3,9 s (N/A)
0 a 100 km/h: 5,4 s (N/A)
Retomada
40 a 100 km/h em Drive: 4,2 s (N/A)
80 a 120 km/h em Drive: 3,1 s (N/A)
40 a 100 km/h em Drive: 4,2 s (N/A)
80 a 120 km/h em Drive: 3,1 s (N/A)
Frenagem
100 km/h a 0: 38,6 m
80 km/h a 0: 24,6 m
60 km/h a 0: 13,6 m
100 km/h a 0: 38,6 m
80 km/h a 0: 24,6 m
60 km/h a 0: 13,6 m
Consumo
Ciclo cidade: 7,5 km/l
Ciclo estrada: 11,1 km/l
Ciclo cidade: 7,5 km/l
Ciclo estrada: 11,1 km/l
Números do fabricante
Aceleração 0 a 100 km/h: 4,6 s
Consumo cidade: 8,3 km/l
Consumo estrada: 16,1 km/l
Velocidade máxima: 250 km/l (limitada)
Aceleração 0 a 100 km/h: 4,6 s
Consumo cidade: 8,3 km/l
Consumo estrada: 16,1 km/l
Velocidade máxima: 250 km/l (limitada)
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