Assim que ouvi o barulho da chuva batendo na janela lá de casa comecei a ficar preocupado. Afinal, já era noite e no dia seguinte eu tinha de estar no autódromo de Interlagos pela manhã para acelerar o
novo Mercedes CLA 45 AMG. Trata-se da versão bombada do “baby-CLS”, com direito ao motor 2.0 quatro cilindros mais potente do mundo (360 cv) e belíssimas borboletas de metal na direção para cambiar a transmissão de sete marchas e dupla embreagem. E a chuva apertando…
Me senti um pouco o Senna naquela noite, olhando para o céu e pensando na condição da pista no dia seguinte. Mas o Ayrton sabia das coisas e, geralmente, até torcia pelo banho de São Pedro. Com chuva, Senna destilava todo seu talento para deixar os rivais para trás, mesmo quando ele não tinha um carro à altura dos concorrentes. Bem, minha missão em Interlagos era apenas terminar a avaliação com o CLA inteiro. Mas também não valia dirigir quem nem minha avó e não ter o que contar para vocês.
Na manhã seguinte, a garoa típica paulistana e o céu carregado não me davam a mínima esperança de pista seca. A caminho de Interlagos, na tranquilidade do Corolla GLi (veja no Garagem), fui lembrando do meu contato com o A 45 AMG. O CLA AMG traz o mesmo conjunto mecânico do hatch, que inclui o bloco 2.0 de 360 cv e 45,9 kgfm entregues de 2.250 a 5.000 rpm, além da tração integral. Hum… isso é bom para o asfalto molhado. Mas na verdade esse sistema de tração atua 100% na dianteira em condições normais, enviando força para o eixo traseiro (até 50% do torque) somente quando necessário. Para efetuar esta transmissão, a eletrônica avalia dados como a pressão no acelerador, a velocidade das rodas, o ângulo de estreço do volante e até a marcha engatada, entre outros parâmetros. Em caso de necessidade, ainda há controle de tração e estabilidade – este último em três níveis.
Diferente do brutal A 45 AMG, o CLA 45 parece mais refinado. A ideia é ter desempenho semelhante, mas com um comportamento menos arisco. Já no autódromo, o contato visual com o sedã-cupê nos boxes é impactante. O novo Mercedes é estupidamente belo, com sua linha de teto curva e a traseira baixa, e ganha ainda mais estilo quando preparado pela AMG. O motorzão opera com elevados 1,8 bar de pressão no turbo de duplo fluxo, de modo que ele precisa de muita refrigeração. É por isso que estão lá as saradas tomadas de ar na dianteira, que reforçam a agressividade do carro. As rodas aro 19, com desenho aberto, também têm a função de resfriar os potentes discos de freio – maiores que os do CLA comum e com pinças vermelhas. Com esperado, o trabalho da AMG incluiu ainda um ajuste de suspensão, rebaixada e enrijecida, além de uma nova calibração da direção elétrica.
Quem já acelerou um AMG V8 pode se desapontar ao encontrar um mero quatro cilindros levando a assinatura de um engenheiro da empresa – a AMG mantém a filosofia de “um homem, um motor”. Mas não se preocupe: a Mercedes cuidou do sistema de escape para que o “pequeno 4 em linha” tivesse aquele ronco grave e explosivo que caracteriza os esportivos da casa. O CLA que vem ao Brasil chega com o chamado “escape Performance”, item opcional na Alemanha que divide os gases da combustão entre as duas saídas traseiras. Em baixas rotações apenas uma saída emite o som do motor, num tom mais discreto para não incomodar em viagens. Já quando se pisa fundo, as duas saídas emanam o urro do 2.0 a plenos pulmões. E com direito a aqueles “pipocos” nas trocas de marcha!
Partida dada, sinto que estou num carro de motor maior. É hora de me acomodar nos deliciosos bancos tipo concha (tão bonitos quanto cômodos) e colocar o cinto de segurança (na cor vermelha). Para combinar, os bancos trazem um revestimento vermelho sob o couro preto perfurado, além de costuras também vermelhas. Tudo de muito bom gosto, um interior digno da Mercedes. Temos aquele “iPad” que serve como central multimídia e GPS, teto-solar panorâmico, ar digital de duas zonas e ainda o assistente de estacionamento que faz baliza sozinho. Bom, não pode faltar nada num sedã compacto que custa R$ 289.900, certo?
A autorização para sair do boxes chega pela rádio. Ao meu lado, um piloto contratado pela Mercedes para não deixar a gente fazer besteira – e dar umas dicas de como andar em Interlagos no molhado, claro! Enquanto coloco o câmbio no modo manual (a alavanca está no lugar convencional, em vez de na coluna como no CLA 200) para efetuar as trocas pelas borboletas, o cara me conta que teve corrida de Fórmula Truck no fim-de-semana anterior e que a pista está um “sabão”. Saindo dos boxes pela reta oposta, os quase 46 kgfm de torque puxam o CLA com decisão e as marchas são engolidas rapidamente.
Chega a curva da descida do Lago e o sedã já acende a luzinha da ajuda eletrônica, enquanto a dianteira vai alargando a trajetória. A tração traseira entra em ação, mas as condições do piso não permitem acelerar forte. O jeito então é ir contra meu instinto e fazer o traçado fora da parte emborrachada. Mesmo assim, não dá para sentir o corpo pendurado pelo cinto de segurança nas curvas, como seria se a pista estivesse seca. Ao mesmo tampo, também não dá para avaliar direito a rolagem da carroceria, pois ali o nosso limite está todo na aderência dos pneus, que vai embora bem antes de o firme CLA começar a adernar. O lado bom é que a direção elétrica, até leve para um carro de 360 cv, vai me contando com fidelidade onde o chão está mais escorregadio.
Nestas condições, o jeito era matar bem a velocidade antes de apontar a dianteira na tangente e só retomar a aceleração quando o volante já estivesse reto novamente. Bom teste para os freios, que mostraram fortes alicatadas, e para o motor, sempre vigoroso nas retomadas. Mas continuo achando que o câmbio de sete marchas, apesar da dupla embreagem, não está à altura do conjunto. No Bico de Pato, feito em segunda marcha com praticamente todos os carros que já acelerei em Interlagos, a transmissão não me deixava reduzir porque não aceita reduções com o giro alto. Resultado: ou freava demais, para poder entrar em segunda, ou fazia a curva em terceira marcha. O piloto ao lado me explica que nesse carro é melhor contornar ali em terceira marcha, pois mesmo em baixa rotação o turbo já garante que o CLA saia “cheio” da curva. Fiz isso, mas achei que o carro entra um tanto “xoxo” na tangente.
Mais à frente, na descida do Mergulho, resolvo provocar o AMG e acelero um pouco mais do que deveria. A resposta vem de forma imediata, com a traseira querendo passar a frente mesmo com o ESP no modo mais zeloso. Faço um rápido contra-esterço (a direção ágil ajuda) e o CLA volta ao rumo, mostrando que quem manda no circuito hoje é a (falta de) aderência. Afinal, de nada adiantam as “babás eletrônicas” se os pneus estão com pouco grip ao solo.
Contorno a Junção em terceira marcha e cravo o pé no acelerador para vencer a subida dos boxes. O CLA se sente leve e bastante vivo no aclive, adentrando a reta já acima dos 150 km/h, enquanto passo colado no muro à esquerda para cortar a reta a quase 200 km/h. A prudência me faz começar a frear bem antes das placas de aviso, para então contornar o “S” do Senna em terceira marcha e menos de meio curso do acelerador. Mais uma bela esticada na reta oposta e repito toda a operação da volta anterior, mas desta vez sem abusar no Mergulho para evitar outra “traseirada”. Depois alivio o ritmo e vou deixando a máquina esfriar para o próximo felizardo.
Fim de festa, puxo o CLA para os boxes com minha missão cumprida. Ele está inteiro e consegui contar alguma coisa para vocês. Agora aguardo um encontro com pista seca para ver do que ele realmente é capaz!
Por Daniel Messeder
Fotos Divulgação
Fotos Divulgação
Ficha Técnica – Mercedes-Benz CLA 45 AMG
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.991 cm³, turbo, injeção direta, gasolina; Potência: 360 cv a 6.000 rpm; Torque: 45,8 kgfm entre 2.250 rpm e 5.000 rpm;Transmissão: câmbio automatizado AMG Speedshift DCT de dupla embreagem e sete marchas, tração integral; Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e independente four-link na traseira; Freios: discos ventilados nas quatro rodas com ABS e EBD;Peso: 1.585 kg; Capacidades: porta-malas 470 litros, tanque 56 litros; Dimensões:comprimento 4.691 mm, largura 1.777 mm, altura 1.416 mm, entre-eixos 2.699 mm
Fonte: Carplace.
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